quarta-feira, 20 de março de 2013

Acordem! A primavera está a chegar!...

Um texto para leres:

Acordem! A primavera está a chegar!...

    Ainda era de manhã cedo. Estava frio e a mamã tinha pressa.
   — Anda lá, Till — chamou. — Onde está o teu gorro? Vamos perder o autocarro!
   Till engoliu o último pedaço de pão e dirigiu-se à parede da cozinha. Aí estava pendurado um calendário com muitas folhas. Na de cima estava escrito “20 de Março”. Tinha sido ontem. Till pôs-se em bicos de pés, levantou a mão…
    — Onde é que estás, Till? — chamou a mãe, da entrada.
    Till baixou a mão.
    — Bem, não mudo agora — resmungou ele, saindo a correr.
    E o calendário lá teve de continuar no dia “20 de Março”. A corrente de ar agitou a folha levemente e fê-la sussurrar.
    — Que aborrecimento! — murmurou lá fora o vento, mal- humorado. — Hoje não é ontem. A Primavera quer chegar, mas assim não pode, e vai ter de ficar à espera… — E saiu a correr.
   — Temos muito trabalho a fazer — segredou ele às nuvens, despenteando-as bem despenteadas.
    — Não me digas! — cantarolaram as nuvens. Dividiram-se em bolinhas de algodão e segredaram ao ouvido do espantalho:
    — A Primavera está a chegar!
    — E porque não? — exclamou ele.
   Alargou o cachecol e assentiu com um sinal de cabeça. – Já estava cá com um pressentimento! – acrescentou satisfeito.
    O espantalho fez cócegas à toupeira até ela acordar.
   — Atchim! — espirrou. — Como te atreves a acordar-me, com este frio glacial? Deixa-me dormir! — resmungou. De seguida, cruzou as mãos sobre a barriga e adormeceu de novo.
    O Génio das raízes esfregou os olhos e saiu da sua toca.
    — A Primavera está a caminho. Quem vai tocar para anunciar a sua chegada? — gritou ele às campainhas. Elas dormitavam graciosamente e não se deixaram incomodar.
   Triste, o Génio das raízes soprou nos dedos, que estavam gelados.
    — Eh, toca a acordar! – disse a Sr.ª Terra, bem-disposta.
   Puxou os narcisos pelos bolbos e endireitou a haste das prímulas. Aspergiu a violeta. As três flores sorriram alegremente, ainda a sonhar.
   Uma campainha espreguiçou-se e deu uma cotovelada à anémona.
   — Eu estou cansada. Toca tu — pediu ela, enquanto, a tremer, tapava as orelhas com uma folha.
   Mas a anémona envolveu-se na sua peliça.
   — Está muito frio — disse baixinho, fechando os olhos de longas pestanas.
   — Ervas daninhas preguiçosas! — ralhou a Sr.ª Terra. — Então… como é? Vamos lá, vamos lá! A Primavera está perto! — Atou o avental. — Já vou pô-las todas a mexer — disse, decidida, indo buscar uma vassoura.
   O melro e a mejengra estavam pousados em cima da árvore.
   — A Primavera quer chegar! O quê? Com este tempo glacial? — chilrearam eles, cheios de frio. — Como é que vai ser?
   E, aborrecidos, cerravam as penas.
   O vento esfregou as mãos e inspirou fundo.
   — Já chega de andarem por aí a vaguear — ralhou ele aos flocos de neve. — É altura de emagreceres – disse em seguida, virando-se para o boneco de neve.
   Mas alguma coisa não estava certa.
   — Falta o sol, claro! — murmurou tristemente o Génio das raízes. Empurrou as nuvens, puxou outras e levantou, a arfar, as mais preguiçosas. Em vão.
    Já era meio-dia e o vento esvoaçava em remoinho, sem saber o que fazer. O Génio das raízes sentou-se junto da chaminé do fogão, à espreita dos primeiros raios de sol. A Sr.ª Terra limpava bolbos de tulipas, enquanto cantarolava. Mas tudo estava branco de neve, o sol não aparecia e as campainhas continuavam a dormir.
   O autocarro onde Till seguia com a mãe de regresso a casa arfava estrada acima. Parou, e Till e a mãe apearam-se. Juntos abriram a porta de casa e entraram na cozinha. Uma corrente de ar fez agitar a folha do calendário e chamou a atenção da mãe.
   — Oh, Till! — exclamou admirada. — Não tiraste a folha do calendário! Ontem não é hoje, e a Primavera quer entrar!
    Till levantou-se de um salto… e arrancou a folha.
   Então o sol saiu de detrás do monte e começou a brilhar resplandecente. O vento encheu as bochechas e virou-se para sul.  O Génio das raízes agarrou na Sr.ª Terra pelo avental e ambos dançaram, acompanhados pelo canto do espantalho.
    A toupeira deu uma pequena cotovelada à violeta.
    — Vamos — resmungou. — A Primavera é tempo de florir!
  O vento respirou finalmente de alívio. A nova folha do calendário chamava-se21 de Março”.
Sigrid Laube; Silke Leffler Aufgewacht, der Frühling kommt!
Wien, Annette Betz Verlag, 2004
Texto adaptado

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